A Programação Autônoma e as Cascas do Processo
Começo esse texto com uma frase do guru Lean Shigeo Shingo que é, no mínimo, engraçada:
“Quando você compra uma banana, tudo que você quer é a fruta e não a casca. Porém, você tem que pagar pela casca da mesma maneira. A casca é uma perda e o consumidor não deveria pagar por essa perda.”
Shingo era tão obstinado por reduzir perdas, que consegue identificar isso até em objetos da natureza que vemos todos os dias. Esse olhar deve ser uma habilidade que todo engenheiro de produção deve buscar desenvolver. E quando falamos de processos de planejamento e programação não é diferente.Em cadeias de suprimentos que estão mais robustas e já adaptadas ao APS (Advanced Planning and Scheduling), o processo de sequenciamento da produção pode se tornar um processo quase que burocrático para o key-user. Bom ressaltar que aqui estamos falando de empresas cujo processo está extremamente estruturado. Por exemplo, empresas que geram diversos cenários de programação, sem intervenção manual na programação, e a escolha de qual cenário seguir em frente é decidido com base em diversos indicadores chave.Devido a esse processo estar tão bem consolidado e ser padronizado, podemos configurar a solução APS para que execute uma nova programação automaticamente. Porém, a periodicidade da reprogramação é um assunto muito particular de cada empresa, pois aqui estamos tratando de um trade-off muito importante para o sistema produtivo que é a discussão entre responsividade e rigidez. O ponto ótimo entre esses dois fatores deve ser muito bem pensado. Se caminhamos para um lado muito responsivo, ou seja, em que podemos alterar a programação no curtíssimo prazo, corremos o risco de deixar a produção com pouca confiança para planejar a execução das ordens. Se caminhamos para um lado muito rígido, ou seja, em que reprogramamos com pouca frequência, corremos o risco de desnortear a produção e não readequar a programação a tempo. Achar esse sweet spot é um tema bem amplo e talvez o mais desafiador ao implantar uma solução de programação autônoma.Agora, uma vez que se encontra a cadência ideal de reprogramação, temos diversos ganhos. O primeiro (e mais óbvio) é o ganho de tempo do usuário para o acompanhamento e melhoria do processo de programação. Segundo, a padronização do processo é intensificada e isso dá mais previsibilidade para a produção e as demais áreas de apoio. Outro ganho é a adaptabilidade da programação aos eventos externos e seus impactos na programação de maneira mais ágil.Todos esses ganhos são sempre originados por um olhar inquieto sobre o processo. Nunca esqueça de que podemos melhorar a maneira como fazemos as nossas atividades. Shingo conseguiu até reclamar da maneira como a natureza “produz” as bananas, então não há limites para que nós não possamos olhar para as perdas do nosso dia a dia.Gostou? Nos conte quais são as “cascas de bananas” que percebeu no seu negócio hoje.
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